O regime de Cuba é democrático, tanto é que lá existem eleições. Basta?
De vez em quando trato aqui de uma questão que me parece importante que é a já vacilante ditadura cubana. Sensibiliza-me profundamente a existência de pessoas punidas e encarceradas apenas por pensarem de modo diferente do que preconiza o sistema dominante.
O último relatório da Comissão Cubana para os Direitos Humanos contabiliza a existência de 167 presos políticos na ilha e informa que somente neste semestre ocorreram mais de 800 prisões arbitrárias contra dissidentes. A ONU faz a mesma conta. A Anistia Internacional aponta 53 prisioneiros da consciência.
Em janeiro deste ano um grupo de 59 artistas e intelectuais não-dissidentes divulgou uma “Carta de repúdio às proibições culturais” em Cuba contendo várias inquietações. Destaco duas:
- Obstrução da participação de um grupo de companheiros que levavam bandeiras ecologistas e socialista-autogestionárias na manifestação pelo Primeiro de Maio de 2008; alguns dos quais foram posteriormente separados de seus centros de trabalho;
-Separação de seu centro de trabalho e das organizações políticas onde militavam vários trabalhadores, por receber e/ou publicar críticas propositivas no espaço digital Kaos en la Red (socialista e contrahegemônico); alegando a instituição o uso incorreto da rede digital;
Estas são apenas algumas referências recentes que retratam as coisas em Cuba como elas são.
Há, contudo, quem ancorado em razões legítimas, porém engajadas, se filie à velha concepção de luta anti-imperialista, o que quer dizer anti-americana, para defender o regime cubano. Nesta perspectiva apontam as eleições como uma espécie de garantia contra o rótulo de ditadura imputado ao regime dos Castro. Não creio que baste. Em muitos casos, o processo eleitoral embora seja um recurso próprio da democracia é utilizado contra ela. Aí está o Chavez utilizando as eleições em seu intinerário de autoritarismo. Os exemplos históricos são muitos.
O momento atual é crítico para Cuba cujo regime dificilmente sobreviverá além dos Castro. A libertação dos presos que “receberam dinheiro dos EUA para atividades anti-regime” não é um gesto de boa vontade, é um movimento necessário para que se mantenha a ditadura possível.
Sei que não é nada fácil desgrudar das utopias. Também fui apaixonado pela Ilha. Mas desapaixonei assim que tive noção exata do valor da liberdade.
Caro blogueiro,
ResponderExcluir.
Seria prudente o senhor reservar sua sensibilidade para pessoas realmente necessitadas dela: os milhões de desplazados que existem pelo mundo passando por fome, privação de todos os direitos de saúde, sem possibilidade de estudo, de emancipação cultural, condenados a viver da forma possível, muitos deles levados a entrar em conflito com a lei e privados de liberdade. Sensibilidade merecem os opositores do regime espanhol, muitos presos acusados de terrorismo. A igreja católica espanhola, extremamente reacionária, ignora a existência desses: os “malos” que não estão inscritos na defesa dos evangelhos.
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O último relatório da Comissão Cubana para os Direitos Humanos contabiliza a existência de 167 presos políticos na ilha e informa que somente neste semestre ocorreram mais de 800 prisões arbitrárias contra dissidentes. A ONU faz a mesma conta. A Anistia Internacional aponta 53 prisioneiros da consciência.
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Em Cuba qq delinqüente pode ser assediado e rapidamente virar um preso político. Qualquer um que não deseje trabalhar, pode se dedicar a vender charutos roubados nas fábricas, ron ou outro produto subtraído do Estado, ou seja, pode prejudicar o patrimônio comum, que se for presos, por roubar, agredir, matar, estando disposto a falar que Cuba é uma ditadura, já terá status de “dissidente”. O que há em Cuba, e isso não é novo, são pessoas vivendo dos dólares para fazer em Cuba a contra-revolução. Mas um fato é notório: em Cuba jamais houve uma dissidência de valor, gente de outra estirpe, distinta desses ‘exército’ de vive atrás de dinheiro.
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Quem fala dessas obstruções ignora o direito que qq estado tem para se defender de grupos pagas por potências estrangeiras, para atuar na defesa de grupos forâneos ao país. Quem incentiva essas ações são os grupos de Miami, interessados em recuperar em Cuba o regime semi feudal que havia antes de 59. Essas análises ignoram essa conjuntura de agressão permanente que apenas muda de feição. Essa bandeira de apontar Cuba como uma detratora do regime cubano não é nova. Vem desde Ronald Reagan.
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Esse discursinho reducionista, que pretende anular o que é manter uma luta de meio século, sem trégua, é idêntico ao difundido pelo governo espanhol, pela igreja espanhola, por todos os setores dessa sociedade capitalista que está nadando aqui contra a maré para enfrentar a crise mundial que chegou forte neste país. Os trabalhadores estão como reféns, vendo seus direitos e salários indo para o ralo. Do fim deste capitalismo podre, ninguém fala. Aqui entre as notícias das viagens das infantas, das briguinhas entre os nobres das famílias reais, do casamento de Alberto de Mônaco, o mundo vai rolando com os mesmos esquemas de exploração do proletariado. Esses brasileiros que se dispõe a repetir de qualquer forma essas asneiras contra Cuba, aqui se sentiriam no céu! Maravilha: Chavez é louco, porque os espanhóis querem! E os neocolonizados assim repetem!
Essa previsão é a coisa mais recorrente aqui escrita. Essa peça de dominó já deveria ter caído junto com o leste europeu. Mas os defensores dessa surrada tese ignoram que Cuba está muito distante no histórico e no geográfico.
ResponderExcluirA libertação dos presos que recebem dinheiro dos grupos de Miami é reflexo dessa política que não esconde o anúncio de milhões destinados a recuperar a democracia em Cuba. O orçamento para 2011 já foi anunciado. E essa gente queima dinheiro? Para onde vão esses dólares, senão para pagar a imprensa hegemônica pelo mundo, senão para manter em Cuba milhares de gente sem trabalhar, havendo emprego, vivendo a custa dessa animosidade!
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O mais impressionante nesse recente episódio foi a lástima que manifestou a “dama dos verdes”, preocupada que os familiares foram liberados para viver na Espanha! Seguirão eles recebendo sua mesada!? Do que irão viver sem a ajuda os democráticos do norte? Aqui na Espanha, onde me encontro, há uma ampla propaganda nos meios de comunicação, do que será oferecido aos dissidentes: glória, dinheiro, casa, emprego,... Isso sempre começa assim e acaba em divórcio como seria o esperado em qq relação permeada por interesses pouco claros. Não raramente, quando essas pessoas tem que viver trabalhando e encarando a vida, aflora o seu caráter cheio de culto ao dinheiro, ao consumismo. O governo cubanos já havia feito a oferta para trocar esses dissidentes pelos 5 cubanos presos nos EUA. Mas disso ninguém fala!
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A defesa das conquistas da revolução da cubana não é para qq um! Está destinada aos que acreditam que o mundo não se quedó sem utopias! E nesse meio, nada pior do que um ex-esquerdista, que necessita, para se firmar, fazer uma negativa de tudo que um dia acreditou. Os erros existem em Cuba, mas a esperança ainda é o forte dos milhões de cubanos que lá estão na defesa da dignidade que conquistaram. Isso não é para qq um, é para os que sabem lutar.
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O que esses cubanos pensam, como eles atuam, o que eles defendem, isso é que o ponto da questão aqui ignorado, a essa gente não é dado o direito de falar que Cuba pode ser um país destruído por essa guerra que se move contra ela, mas vencido nunca. Esse papel de lacaio do imperialismo não cabe mais nessa ilha, ainda que para muitos o chique seja isso, capitular assimilar o que dizem “eles”. E tem mais aos cubanos que estão lá lutando, pouco importa a falastronice dessa gente. Isso não é novo.
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Que desejo me sobra que as pessoas pudessem ver aqui, na terra desses padres que vão a Cuba em missão humanitária, como há pobres pelas ruas com um olhar humilhado estendendo a mão para receber uma moedinha de euro! Que triste a invisibilidade dessa gente aos que estão preocupados em salvar as “vítimas do comunismo”!
Maria
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Grato
Valterlucio