Malthus, the Ghost - resposta a uma leitora
Recebi de uma leitora um e-mail perguntando se eu defendia o avanço da fronteira agropecuária na Amazônia e se sou avesso aos ambientalistas. Resolvi responder aqui.
Quando era criança eu costumava apanhar duas vezes seguidas. Se um de nós fazia um "malfeito" a minha mãe vinha imediatamente com o chinelo na mão e tome-lhe. Quase sempre eu apanhava dobrado. Isto porque sempre insistia em perguntar por quê. A minha mãe que não era dada a explicações tomava aquilo como rebeldia. Tome-lhe de novo.
Deixei de fugir da aula pra jogar futebol, mas nunca de perguntar por quê. É por isto que não entro facilmente nas correntes de pensamento que inundam repentinamente a sociedade. Quero saber por quê.
É o caso do AGA - aquecimento global antropogênico, que surgiu como teoria do clima para assustar-nos como se fôssemos criancinhas a quem se conta uma história do bicho-papão. De repente, não mais que de repente, aparece o Al Gore com aquele filminho vagabundo e no outro dia estamos lendo nos jornais do mundo inteiro que se não reduzirmos drasticamente o CO² na atmsofera a vida na terra fica insustentável em décadas. Pior é que não nos deram tempo de perguntar por quê. Já foram tomando conta do debate que nem houve.
Me considero ambientalista mas adoto um certo grau de ceticismo (não confundir com os conceitos de Bjorn Lomborg). O que é isso? É o sujeito que compreende a finitude dos recursos naturais, que adota pessoalmente práticas ecológicas responsáveis, que defende o uso parcimonioso da base natural de recursos, que considera demasiadamente deletério o padrão de consumo atual e encontra para tudo isso um razoável conjunto de provas. Quanto às teorias escatológicas tipo AGA, sou cético. Só dispenso de prova o crer em Deus. Fora da fé, quero ver a prova. Até agora não mostraram. Pelo contrário, já é consenso que na última década, apesar das crescentes emissões de GEE, a temperatura global está em declínio. Tudo leva a crer que há outras razões para as mudanças climáticas, o que não nos desobriga de pautar nosso consumo em níveis sustentáveis em longo prazo.
Tenho dedicado a este tema uma boa parte de meu tempo. Não como climatologista, que não sou, mas como um cidadão que para firmar opinião tem que ter respostas ao por quê. Até o momento me parece o seguinte:
1. Não há debate – a mídia global tomou lado e não permite uma discussão séria.
2. A escatologia é infundada - não há a propalada iminência de hecatombes climáticas.
3. A síndrome algoreana tem beneficiários nas empresas, nos governos, na política e na academia. Prejudicados também.
No conjunto tudo isso tem cheiro malthusiano. Embora não seja apenas, como em Malthus, uma questão de crescimento da população, mas também de crescimento exponencial do consumo/produção mediante a adoção de padrões cada vez mais deletérios por um número cada vez maior de pessoas.
Pensar assim não me impede, por exemplo, de afirmar que a Amazônia pode ser preservada maximamente. Se forem adotadas as medidas corretas, em pouco tempo se poderia chegar ao ponto "ZERO" de desmatamento. Entre elas e, principalmente, utilizar intensivamente as áreas já desflorestadas. Não defendo a expansão da agropecuária na Amazônia. Mas isto porque não considero necessário e não por causa do pum (metano) da vaca.
Quanto aos ambientalistas, os admiro mesmo quando estão equivocados, desde que de boa-fé. Detestáveis são os que adotam o ambientalismo por esperteza política, para se promoverem e adquirirem prestígio, cargos e dinheiro. Estes últimos, creiam, existem aos montes. Aqui, ali e alhures.
"Me considero ambientalista... O que é isso? É o sujeito que compreende a finitude dos recursos naturais, que adota pessoalmente práticas ecológicas responsáveis, que defende o uso parcimonioso da base natural de recursos, que considera demasiadamente deletério o padrão de consumo atual e encontra para tudo isso um razoável conjunto de provas".
ResponderExcluirValter, hoje em dia, para a maioria dos demagogos de plantão, ser ambientalista é chique, dá dinheiro e visibilidade social e política. No Acre o ambientalismo foi usado para a projeção de políticos e para arrecadar dinheiro de organismos internacionais. Do jeito que você explicou no seu texto, também sou ambientalista!
Acreucho.
ResponderExcluirEntão voce é mesmo ambientalista. É um erro das pessoas honestas e responsáveis conceder aos oportunistas a paternidade, talvez a propriedade de iniciativas e comportamentos racionais em termos de consumo de recursos naturais.
O ambientalismo, diferentemente do que se supõe, não é sequer bandeira histórica das esquerdas.
Se as pessoas honestas e responsáveis renunciarem ao termo e à valorização de padrões de consumo sustentáveis achando que se trata de um debate adonado por extremistas, oportunistas e demagogos, o resultado será, de fato a vitória destes e não da sociedade.
Por isto sou ambientalista, uso camisa vermelha quando me dá na telha, frequento os lugares que quero, me sento nas platéias que julgo relevantes e participo do debate que me parece importante. Jamais desapropriarão a minha liberdade.