Imprensa serve pra quê? Aqui, como lá...


Governos de viéses autoritários avançam contra a liberdade de imprensa. No Brasil, há quem se renda à tentação.

COMENTO

Na semana passada o presidente Lula se saiu com mais uma. Insatisfeito com as noticias das obras do PAC, que vez por outra são flagradas em desvios, corrupção, atrasos e, quase sempre, na incompetência governamental que põe em descompasso a propaganda oficial e a realidade, o Presidente que não lê jornais porque dão noticias ruins, nem livros porque dá sono, nem relatórios porque são cansativos, não se conteve. “Imprensa é para informar, não para investigar”. Em seguida avançou contra o TCU. Ameaça criar uma instância superior para controlar o controle.

Jornais, revistas e TV’s de agora por diante devem seguir a linha editorial ditada do Presidente Lula. Pelo menos esta é sua vontade. Não os obriga porque não pode. O Brasil não é a Venezuela, nem a Argentina. Ainda.

Houve reação. Editoriais fortes foram publicados restabelecendo a missão da imprensa. A oposição não deixou por menos. Na Câmara e no Senado parlamentares se revezaram na defesa da liberdade de imprensa e da autonomia do TCU. Até políticos dependentes do lulismo, algo envergonhados tentaram defender a imprensa. O deputado Miro Teixeira conhecido por seus vínculos com a mídia (foi autor da ação que revogou a Lei de Imprensa no STF) com sorriso amarelo caiu naquela de que “o presidente não quis dizer bem isso”, mas discordou do Lula.

No Acre, neste dia 1º de Novembro, jornalistas participantes da Conferência Estadual de Comunicação divulgaram um texto duro contra o governo local. Em certo trecho afirmam que “A prática do terror psicológico, o clima de medo e de tensão, o controle e a produção dos “fatos”, notícias e informações veiculadas nos meios de comunicação estatais – que o governo e seus assessores chamam de “público” -, além da censura prévia e o controle nos meios de comunicação particulares que vivem às expensas do erário, evidenciam a face de um governo autoritário e antidemocrático e o profundo desrespeito ao estado de direito no Brasil e à população acreana, em particular.” Não sei por que, o documento ( leia aqui ) não olha o passado. Esqueceram de dizer desde quando.

Não sou nem serei jornalista (não possuo todos os atributos necessários), não tenho, por isso, legitimidade para defender a imprensa, mas sou um leitor assíduo e atento, um cidadão que se pretende livre, posso então defender o meu direito à informação. E o defendo.

Na dominação ou na tentativa de dominar a imprensa o que se percebe mais facilmente é a necessidade que governos autoritários têm de desequilibrar em seu favor a notícia, a informação - mostrar o que há de bom e esconder o que há de ruim. Neste sentido a imprensa, se concordar, é paga pelos dois serviços. O segundo, obviamente, sujo.

Há, além disso, outro objetivo não muito claro para o cidadão comum. Me refiro ao jogo político subjacente à informação - mostrar os políticos da situação e esconder os da oposição. Também aí a imprensa faz um servicinho sujo.

A população, eu no meio, que quer e precisa de uma informação limpa pode fazer algo? Pode sim. Em primeiro lugar, identifique e ignore jornais e jornalistas pagos por governos e políticos. Inclusive a rede pública se ela se comportar como agencia de propaganda do governo. A empresa vai sentir o baque e se remodelar, pois só consegue viver do servicinho sujo porque nós a levamos em conta. O jornalista vai perder o jabá. Em segundo, desconfie de políticos que querem controlar a imprensa. Se a ética deles inclui dominar a informação e evitar o debate, não merece sua confiança. Em terceiro, use a internet. Visite as páginas dos jornais, leia os blogs de opinião, entre no debate, passe adiante a informação, assim estaremos ampliando e fortalecendo uma rede informal, livre e gratuita.

Nenhum governo pode ser bom fora de controle. Todos eles, sem exceção, degeneram. Portanto, do ponto de vista do cidadão a imprensa presta um serviço indispensável, o de controlar o governo através da informação de suas ações e omissões à população. Embora alguns prefiram ser a mão do governo, jornais e jornalistas são nossos olhos. É pra isso que serve a imprensa.

Nas palavras de Millor Fernandes “Imprensa é de oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”


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