Ultimos dias de campanha - uma nascente, dois rios, uma foz.

A semana está encerrando com dois movimentos distintos, porém originados no mesmo fato. O primeiro é o debate com direito a reuniões públicas em torno da liberdade de imprensa. Personalidades e intelectuais de todos os campos assinaram e publicaram um MANIFESTO no qual procuram alertar a sociedade para os excessos praticados pelo presidente Lula em sua desenfreada ação eleitoral em defesa de sua candidata, o que inclui, como vimos nas últimas semanas, a precipitação de tentar conter no grito a liberdade de imprensa - "a opinião pública somos nós!". Do outro lado, ou seja, do lado do governo, partidos, sindicatos, organizações e blogueiros financiados com recursos públicos acusam a grande imprensa de golpista, de tentar acuar o presidente e de representar a elite brasileira contra os interesses dos trabalhadores. Nesta quinta-feira fazem manifestação (que ironia!) na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

O segundo é a alteração da tendência verificada nas pesquisas eleitorais. A última, do DATAFOLHA colheu uma pequena queda da Dilma e um pequeno crescimento dos opositores. Na soma, menos 5% de chance de liquidar a eleição no primeiro turno. Comparados com os índices da eleição passada (que teve segundo truno), os atuais apontam na mesma direção.

O fato que originou tudo isso foi a divulgação de que a Casa Civil, ainda sob o comando da dona Dilma, através de seu braço direito, Erenice Guerra, e sua parentalha (da Erenice) instalada em postos da administração pública, havia se transformado em quitanda de facilidades, na base do "mamãe resolve". Houve quem confessasse ter recebido 200 mil reais de propina dentro do Palácio do Planalto. Como efeito dominó vários apadrinhados caíram, a começar pela própria Ministra Erenice. Antes, houve a repercussão da violação do sigilo fiscal de pessoas próximas ao candidato José Serra. Ao divulgar os fatos a imprensa foi apontada pelo próprio presidente como adversária política a ser derrotada.

Então, temos o seguinte: Os fatos - quebra do sigilo fiscal de adversários do governo e o descalabro ético praticado a partir da Casa Civil; um desdobramento politico - debate entre organizações contra e a favor da total liberdade de imprensa; um desdobramento eleitoral - fortalecimento da perspectiva de segundo turno identificado nas pesquisas de intenção de voto.

De qualquer maneira os dois movimentos se encontrarão em 3 de outubro com a fala das urnas. Se a dona Dilma ganhar as eleições no primeiro turno, muito provavelmente o  movimento restritivo da liberdade de imprensa tomará corpo, será "legitimado pela vontade popular" que terá sacramentado o governo em toda sua extensão e derrotado a "imprensa golpista". Se houver segundo turno, ganha a liberdade de imprensa e a oposição que terá derrotado o viés autoritário do governo.

Ocorre que em eleições dez dias é muito tempo. Até lá, muita água vai rolar. Ou lama.

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