Carta a um anônimo.

Recebi um comentário ao post anterior que escolho responder em carta aberta. Vai abaixo.

"Valterlucio
Lhe admiro e acho que nós no Acre perdemos um bom profissional e excelente caráter quando vc foi embora. Mas vc era oposição ao PT e agora praticamente não tem falado da disputa no Acre. Por acaso deixou a oposição? "


Caro leitor anônimo.

Em primeiro lugar, obrigado pelo elogio. A sua indagação me permite esclarecer uma inquietação que já me foi transmitida por outras pessoas.

Quando desde o inicio me opus à "florestania" como núceleo de um projeto de desenvolvimento adequado às necessidades do Acre, o fiz como profissional que trabalhou, estudou e conhece razoavelmente a questão do desenvolvimento. Aquela história de neo-extrativismo sempre pareceu neo-atraso e por isto me contrapus fortemente a alguns colegas, gente da melhor qualidade moral e ética que por acreditarem em suas formulações insistiram e implantaram o projeto, o que partidariamente significou a minha oposição ao PT, principalmente.

Nos saudosos anos em que morei no Acre e mesmo depois realizei uma luta que procurava formular uma alternativa ao intinerário que desconfiava não alcançaria seus objetivos. Este era o campo onde com Everaldo Maia, Leila, Regina Kipper, Weliton, Said Filho, Josué Fernandes, Airton Rocha, Mastrângelo, Carlitinho e muitos outros, eu, digamos assim, militava politicamente. Mais do que uma sigla em que estivesse filiado, o que me mobilizava era formular uma alternativa ao desenvolvimento econômico do Acre que superasse a florestania sem fazer tábua rasa da questão ambiental. Infelizmente este processo foi interrompido de forma violenta como todos sabem.

Tenho observado que os anos de experiência do modelo me dão razão. Tanto que de frente para o espelho, a florestania dos anos 90 não se reconhece mais. Mudou. E tem que mudar mais ainda se quiser efetivamente alcançar seus objetivos e, politicamente, manter a hegemonia que conquistou. Penso mesmo que seus líderes já percebram isto. Estão ai, evidentes, os sinais da inflexão no sentido de propostas muito mais eficazes do ponto de vista da dinamização da economia regional.

A florestania mudou. Seus próprios idealizadores reconhecem e, em alguns casos, até reclamam disto. E a oposição, mudou? Não mudou. As tentativas de mudança lideradas por Marcio Bittar foram infrutíferas, perderam-se no cipoal de vaidades, disputas pessoais e carreirismos. Ele próprio quase foi limado pela mediocridade prevalecente. Fora disso, o que tivemos?

Recentemente, em uma entrevista, quando perguntado sobre um projeto para o Acre, um candidato da oposição entendeu que se tratava de um monte de papel e não de uma concepção de desenvolvimento, de uma visão de mundo, de um perspectiva de Estado. No fundo, nem sabem do que se trata.

Já disse antes. A oposição como um todo foi tão lerda na formulação de uma alternativa que a FPA teve tempo de fazer uma crítica interna, não pública, e através de vários mecanismos de gestão realizar uma espécie de reformulação, tomando da oposição seu discurso e suas bandeiras e anulando parcialmente, pelo menos, sua capacidade de formulação e crítica.

Há na oposição quem pense que ganha eleição de dedo em riste apontando defeitos e problemas, mas com a outra mão vazia. Não dá. Não dá pra aceitar o modelo do mulateiro.

Portanto, meu amigo, não me cobre adesão ao nada.

Um abraço fraterno.

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