Marina Silva - como chegou aonde chegou nas eleições.

Postei o texto abaixo neste bloguinho em 29 de agosto. Surpreendentemente o mesmo foi replicado em dezenas de sites, alguns bem prestigiosos. Revendo-o hoje, depois da performance da Marina no primeiro turno, penso que acertei em cheio.


Não menosprezem a Marina Silva.

Admiro profundamente Marina Silva, com quem nunca trabalhei e em quem nunca votei. Ela é, como disse antes neste blog, minha candidata ao Prêmio Nobel da Paz. Dizem que Lula é o cara da vez. Uma injustiça. Disse também porque não deveria se candidatar à presidência. Mas, se quer, penso que parte de uma plataforma elevada e tem grande margem de crescimento. Os adversários não deveriam menosprezar suas possibilidades eleitorais. Vamos por pontos para mais objetividade.

1. O rebaixamento ético da política nos últimos anos é algo inédito. Executivo e Legislativo estiveram ou estão na lama. Até os acusadores tem que pedir desculpas por algo antes de continuar acusando. Este é, portanto, um ambiente altamente favorável a uma candidatura que encarne o princípio ético, a moral, a honestidade no trato com a coisa pública. Quem melhor encarna este papel?


2. A despeito de algumas dificuldades inerentes a um processo de mudança paradigmática como é, de fato, a transformação do padrão de consumo e a correta valoração das externalidades do crescimento econômico, o tema ambiental é hoje consolidado na sociedade. Ninguém quer o desmatamento da Amazônia, a poluição ambiental, o aquecimento global etc. Quem melhor se apresenta para cuidar da natureza e zelar pelas futuras gerações?

3. Recentemente foi noticiado que 2 mil ONG’s reclamaram com o Presidente Lula das possibilidades de mudança no Código Florestal. Isto é apenas uma amostra do exército que muito provavelmente engrossará as fileiras eleitorais da senadora. Quem como ela possui tal inserção na base social organizada?


4. Marina Silva é, certamente, uma das pessoas brasileiras mais conhecidas e respeitadas internacionalmente. O tema aquecimento global tomou de assalto as preocupações de pessoas e instituições em todo o mundo e ela, tida como sucessora de Chico Mendes, freqüenta este debate com extrema facilidade. Alguém mais que ela obterá apoio da opinião pública internacional?

5. Marina Silva é, desde sua primeira aparição no Programa do Jô, uma queridinha dos jornalistas e artistas. Há quase 15 anos a imprensa em geral lhe dá uma mãozinha quando está em apuros. Veja-se a sua passagem pelo MMA. Quando perdia para a Dilma no governo, ganhava dela na mídia. Sempre. A imprensa nacional lhe virará as costas na campanha eleitoral?


6. Barack Obama foi eleito, segundo a mídia mundial por uma eficiente estratégia de marketing centrada no uso da internet. Muito provavelmente no Brasil as coisas são algo diferentes, temos nossos rincões, nossos coronéis perambulando por aí, mas é crescente o uso desta ferramenta e seguramente no próximo ano o fenômeno Obama será perseguido por aqui. Quem mais que Marina Silva tem o perfil adequado à atração dos internautas?


7. Cerca de 10% dos eleitores brasileiros possuem entre 16 e 21 anos Mais de 3 milhões darão seu primeiro voto em 2010. É um eleitorado cujo teor de informação sobre política certamente não a qualifica (a política). Este eleitorado foi formado do mensalão pra cá. Ao mesmo tempo, é a população que mais recebeu a boa informação do respeito ao meio ambiente. Quem melhor que Marina Silva criará vínculos com a juventude?


8. Dos governantes se cobrava, até antes do Lula, experiência administrativa. O Presidente Lula conseguiu chegar aos inéditos 80% de aprovação consistente sem nunca antes ter sido sequer prefeito. Fala-se na Dilma como “a gerente”. Quem precisa de “gerente”? Marina Silva é senadora há quase 16 anos e durante seis foi ministra do próprio Lula. A diferença é que não negligenciou com a desonestidade. Saiu porque quis. Quem dirá que ela não tem capacidade administrativa?


9. Marina Silva possui ainda uma peculiaridade muito importante, dependendo do trato eleitoral que se lhe dê. Sua história. É de origem pobre, é negra, era analfabeta até a adolescência. Quando pôde, estudou, engajou-se na luta ambiental, chegou ao Senado antes que o PT chegasse ao poder. Sua arma é a palavra, não enriqueceu, não foi às compras na Daslu. É abnegada. Convive sem alarde com uma doença grave. É firme porque se sente estribada na razão e não no poder. Não é sargento, é sacerdotisa.


Tudo isso e mais poderá sustentar sua candidatura em uma campanha eleitoral decente. Parece bastante razoável que o alto comando da campanha de Dilma tenha ficado em alerta e enviado sinais de dissuasão à ex-ministra. O resultado? Veremos.

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