A ética da fome versus a ética ambiental



Um excelente artigo do Professor José Jesus de Souza Lemos, publicado neste sábado, no jornal “O Imparcial” de São Luis – MA, alerta para a escassez de alimentos no mundo.

COMENTO

Lemos propõe que regiões potencialmente produtoras aproveitem esta oportunidade para incorporarem ao processo produtivo áreas disponíveis em grande escala. Cita como exemplo o Maranhão, onde segundo ele, um Zoneamento Agroecológico poderia definir a expansão agrícola.

Concordo plenamente. Se existem hoje no mundo pelo menos 1 bihão de pessoas famintas como afirma a ONU, é dever da comunidade internacional estimular a produção e distribuição do alimento correspondente. Alimentar as gerações atuais tem o mesmo conteúdo ético que o chamado desenvolvimento sustentável. Ou não?

A Amazônia é um caso emblemático desta questão ética. Os defensores de sua intocabilidade apontam como argumento basilar o compromisso transgeracional que devemos assumir. Em síntese, precisamos garantir que as gerações futuras disponham da Amazônia para suprir suas necessidades, sejam físicas, químicas, biológicas e mesmo sociológicas e culturais. Por outro lado, estes mesmos defensores da ética transgeracional estão se lixando para o fato de termos na região mais de 70 milhões de hectares desflorestados e fora de uso, ou usados de modo ineficiente, enquanto 1.000.000.000 de pessoas passam fome. Preferem que essas áreas voltem ao seu estado natural de floresta.

Nem estou me referindo a qualquer desmatamento, o que seria legítimo, para atenuar a fome. Trato tão somente de áreas antropizadas, próximas de rodovias e centros urbanos, próprias para o cultivo mediante tratos agronômicos sobejamente conhecidos, capazes de além do mais gerar muitos empregos. Ou, por outro lado, poderia produzir etanol liberando outras áreas da pressão da demanda de biocombustíveis. Desgraçadamente, a ética ambientalista quer que retornem à feição de floresta. Que ética é essa que para recuperar a fisionomia florestal mata de fome milhões de pessoas?

Já sei. Alguns dirão que no mundo não falta alimento, apenas são mal distribuídos. São os mesmos que confrontados com o caráter nefasto do bolsa-família dizem que se trata de acudir a emergência pois a distribuição de renda demora um pouco. Pois é. A distribuição de alimentos também demora. Precisamos, pois, produzir com sobras, forçar os preços para baixo, subsidiar o quanto for necessário e oferecer alimentos aos famintos da Ásia-Pacífico (642 milhões), da África Subsaariana (265 milhões) e da América Latina (53 milhões).

Os serra-leoninos vão esperar democracia, emprego e renda para se alimentarem? Quantos restarão?

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