A FAO tem um brasileiro, José Graziano. Que faça lá melhor que fez aqui.
Depois de inúmeras derrotas na política internacional o Brasil ganhou uma e emplacou o brasileiro José Graziano, cujas letras acompanho desde os tempos da faculdade de agronomia, na direção-geral da FAO, o organismo das Nações Unidas para a agricultura, em um momento importante. Os preços dos alimentos estão há alguns anos em tendência de alta, o que só pode significar escassez para os paises mais pobres do mundo e, consequentemente, fome, doenças e mortes.
Pelo menos três fatores são essenciais na discussão da segurança alimentar que o brasileiro vai enfrentar. O primeiro, o aumento populacional e, consequentemente, o crescimento da demanda por alimentos. Em segundo, a expansão da produção de biocombustíveis que incorpora e converte áreas plantadas com culturas alimentares. Em terceiro, a crescente pressão por preservação ambiental que resulta em congelamento das fronteiras agrícolas. Uma equação indigesta, portanto.
O resultado dessa equação é, por enquanto, aumento dos preços dos alimentos e permanência da fome nos paises e regiões pobres do planeta. Os ecologistas tem lá seus números. Entre a cruz e a calderinha (biocombustiveis X alimentos) afirmam que é possivel resolver tudo isso na base do aumento da produtividade da área plantada. O agronegócio diz que não é bem assim. A curva de produtividade tem taxas decrescentes a partir de um ponto que já foi alcançado, ou seja, mesmo que a produtividade continue crescendo, crescerá a taxas inferiores àquela necessária para se dispensar a incorporação de novas áreas ao plantio.
Um comunicado recente da propria FAO faz um alerta. Abaixo, um trecho (em espanhol).
"Existe un creciente consenso internacional en que la demanda de materia prima basada en cultivos alimenticios usados en el desarrollo de biocombustibles fósiles ha contribuido al reciente incremento en los precios de los productos básicos ejerciendo mayor presión sobre la seguridad alimentaria mundial. El incremento de los precios de los alimentos es una buena noticia para los productores que venden dichos productos básicos. Sin embargo, sólo una minoría de hogares rurales, incluyendo los de productores, poseen un superávit que pudieran vender en los mercados locale. Por eso el incremento de precios representa una amenaza directa a la seguridad alimentaria."
Por suas declarações anteriores, parece claro que o José Graziano não concorda com a FAO. Já listou os preços do petróleo e o aumento do consumo nos paises emergentes como fatores preponderantes na alta de preços dos alimentos. Ao meu ver, um raciocínio, no mínimo, interessante. Explico:
Se a alta dos preços do petróleo é causa, o mercado manda que o substituto (biocombustíveis) suba de preço, certo? Com isto mais áreas são incorporadas ao plantio e menos área é destinada à produção de alimentos, certo? Com isto menos alimento no mercado e os preços mais elevados, certo? Pois é. Mas o Graziano acha que o impacto do petróleo é apenas direto, via aumento do preço dos combustíveis usados na produção e transporte. Esqueceu os substitutos, ou seja, os biocombustíveis.
De qualquer modo, vamos torcer para que o "nosso" Graziano consiga mudar as coisas por lá, o que, aliás, não conseguiu por aqui a julgar pelo fracasso do Fome Zero. O certo é que existem no mundo mais de um bilhão de pessoas, incluindo alguns milhões de brasileiros, que hoje dormirão com a barriga roncando de fome.
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