Código Florestal. As mistificações de Marina Silva no Roda Viva.

"Como é bom estar entre amigos..." assim começa o Salmo 133 que certamente a evangélica Marina Silva repetiu para si mesma durante a entrevista de ontem no Roda Viva, comandado pela loiríssima Marilia Gabriela.

Aquele que já foi o melhor dos programas de entrevistas exerceu ontem um papel ridículo. Pôs para compor a cena jornalistas amigos da Marina ou nítidos desconhecedores do código florestal (tema principal). Todos, sem exceção, pareciam psicologicamente algemados perante a rainha da floresta. Ficaram mudos. E ai, com licença para mentir, ela nadou de braçada. Sem freios e sem interrupções exercitou seu esporte preferido que é o jogo de palavras e a mistificação.

Anotei alguns pontos perante os quais um Aldo Rebelo, uma Kátia Abreu ou mesmo um Reinaldo Azevedo faria Marina mudar o tom. Vejamos algumas afirmações da Marina. Comento em Azul.

"No ministério conseguimos reduzir o desmatamento e ao mesmo tempo aumentar a produção agropecuária." Marina Silva.

Dito assim parece verdade, mas uma coisa não tem a relação direta com a outra como afirma a Marina. A redução não foi da área desmatada. O que se reduziu foi a taxa anual de desmatamento. No melhor ano da Marina, ainda foi desflorestado mais de UM MILHÃO DE HECTARES ou campos de futebol como gostam os jornalistas. Ou seja, o crescimento da produção não tem a ver com nada que a Marina tenha feito.

"O relatório do Aldo Rebelo anistia quem desmatou até 2008 e abre a possibilidade de quem não desmatou agora desmate." Marina Silva.

Falso. O relatório apenas reconhece que quem desmatou no limite legal que a lei da época permitia, fica livre de multas e de recomposição. Não pode é lei nova retroagir para prejudicar. Além do mais, isto se aplica apenas nas áreas de até quatro módulos rurais, ou seja, contempla os pequenos agricultores. Os grandes proprietários estão fora dessa. Estranho é que a Marina não exemplifique. Eu exemplifico: Como a Marina quer, um agricultor no Acre que possua um módulo rural (a maioria dos assentado possui essa área) com cerca de 100 hectares, terá que reflorestar com dinheiro do próprio bolso 80 hectares da sua área e sobreviver plantando em apenas 20%. Simples assim.Que tal? São estes que ela chama de desmatadores anistiados.

"Os assassinatos na mesma semana da aprovação do relatório dão a medida do que pode acontecer no futuro se o relatório virar lei." Marina Silva.

Falso. Todos já sabem que das cinco mortes, duas foram motivadas por encrencas pessoais. Coisa de marginais. Não pensem que só existem anjos entre os "sem terra". Além disso, todos os dias morre algum agricultor, entre eles algum membro de sindicato, a motivação normalmente é bebedeira, vingança, roubo, etc.

"Em Mato Grosso o desmatamento subiu na expectativa de aprovação do relatório de Aldo Rebelo." Marina Silva.

Falta de lógica. Se o relatório apenas sanciona desflorestamentos em pequenas áreas e antriores a 2008, o que tem a ver novos desmatamentos com isso? Nada. Ela sabe disso. Se aumentou ilegalmente foi por afrouxamento dos controles pelo Estado.

"O IPEA fez um estudo demonstrando que milhões de hectares serão anistiados com o relatório de Aldo Rebelo". Marina Silva.

Falso. Para chegar a este número, o "estudo" sob comenda que o IPEA realizou parte do pressuposto de que todos as áreas desmatadas nas pequenas propriedades que excedam a atual norma, mas que eram legais na época em que foram desmatadas, seriam recompostas e, não sendo, como o relatório prevê, passam a constituir anistia, o que não é verdade. Essas áreas são reconhecidas como legalmente desmatadas porque assim dizia a lei na época em que foram desmatadas. Não são passivo ambiental coisa nenhuma.

"No exterior estão calados em relação ao código florestal porque lá eles sabem que aqui o povo já tem uma consciência ecológica." Marina Silva

Esta foi de rir. Em primeiro, os europeus não estão calados. Eles estão falando e muito através das ONG's e dos políticos que financiam. Em segundo, governo nenhum no mundo poderia dizer diretamente qualquer coisa a respeito, simplesmente porque em nenhum pais no mundo existe uma legislação ambiental do tipo que a Marina quer aplicar. Quer saber? Vá a Marina na Europa, em qualquer pais, e proponha uma reserva legal na propriedade, nem que seja de 1%. Vá e corra porque seguramente vai levar um pé na bunda.

Infelizmente, a Marina disse o que quis sem ser questionada. Nenhum dos jornalistas presentes ousou contestá-la. Não por falta de motivos, mas porque ela estava ali para desfilar e não para debater.

Na questão política ela se superou. Parecia o Kassab. Jogou para o escanteio a esquerda e a direita, a situação e a oposição que, segundo ela, são conceitos atrasados e se disse independente. Não dou risada porque dói. Sinceramente.

Mas eu entendo a Marina. Há muito tempo ela perdeu de vista os xapurienses, os acreanos, os amazônidas, os brasileiros. Ela olha o mundo de fora do mundo. Ela vê o mundo precisando de uma governança ambiental global e, nesta perspectiva, cada lugar (não o pais) tem o seu papel. Coube-nos o de manter a biodiversidade, as florestas etc. É neste sentido que o mundo precisa de uma governança ambiental global, ou seja, para estabelecer uma unidade planetária que garanta a própria sobrevivência perante a escassez de recursos e o papel de cada ecossistema nesse plano de sobrevivência. Se o resultado dessa governança é o congelamento das atividades na Amazônia, que seja. Cuide-se de repará-la com financiamentos, subsídios a atividades estrativistas e outras do gênero. Como se vê, a rainha da floresta quer mesmo uma ditadura ambiental.

Qual é o busílis? É que ela não diz isso. Poderia, mas não diz. Não diz porque corre o risco de não ser compreendida, de ser flagrada com posições anti-nacionais, o que de fato são. Até ela explicar que assim como esquerda e direita, situação e oposição, o conceito de nações também é atrasado, a jurupoca já piou, a vaca foi pro brejo e a porca torceu o rabo.

Melhor então é ganhar por dentro do conceito de nação mesmo, nem que para isso seja preciso mentir como fez ontem no programa Roda Viva. Se tiver diante de si interlocutores mudos, muito melhor.

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