Mentiras e mistificações na Amazônia

Leio no blog Ambiente Acreano do bom Evandro Ferreira, uma entrevista publicada originalmente pela ONG amazonia.org.br, cuja chamada é: “Temos 40 anos para evitar o colapso da Amazônia, diz pesquisador do Inpe”. Vale a pena ler, senão pelas bobagens que contém, pela possibilidade de compreender como se faz a mistificação do tema Amazônia.

Tudo começa na apresentação do entrevistado. Normalmente é um pesquisador de algum Instituto. Se for do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), então pronto, o sujeito já tem “otoridade” para dizer impunemente o que quiser. Segundo passo é a manchete alarmista. Querem algo mais estarrecedor do que “colapso da Amazônia”? Quando dá em gente é morte certa. Terceiro passo é usar uma terminologia em inglês. Assessment of the Risk of Amazon Dieback. Que tal? Não é bacana? A partir daí, meu amigo, você é uma vítima potencial da mistificação travestida de ciência.

Como nos ensina o jornalista Reinaldo Azevedo, vamos fazer um vermelho (ele) e azul (eu) com o entrevistado-cientista-do-Inpe. Eu, cientista de coisa nenhuma. Comecemos pelo começo.

Deduz o jornalista(?) Bruno Calixto, do Amazônia.org.br logo de inicio: “Se continuarmos no mesmo ritmo de desmatamento que tivemos durante a década de 2000, associado ao impacto das mudanças climáticas, a Amazônia chegará ao seu limite por volta de 2050.” Mas o pesquisador diz que "o Estudo procurou avaliar os riscos de parte da floresta amazônica entrar em colapso devido à conjunção de três fatores: desmatamento, mudanças climáticas e queimadas”.

O estudo avaliou os riscos de parte da Amazônia entrar em colapso. Ou seja, mesmo que todo o resto faça sentido, esqueça a manchete. Ela está aí apenas para causar pânico. É a ONG fazendo seu trabalhinho.

Amazonia.org.br - O que é o conceito de "Amazon Dieback"?

Gilvan Sampaio – Não tem uma tradução exata para esse termo, mas podemos dizer que é o risco de colapso de parte da floresta. Não de toda a floresta, mas de parte da Amazônia. O nível, o ponto que chega a floresta que, mesmo que você faça reflorestamento ela não retorna. É uma morte de parte da floresta.

Como eu disse antes. Não é de toda a Amazônia. Isto fica por conta da ONG terrorista.

Amazonia.org.br - E o estudo quantifica esse risco?

Sampaio – O risco é alto. Nós já desmatamos quase 20% da Amazônia, e o ponto limite da floresta é 40%. A partir de 40% de desmatamento, e considerando os efeitos do aquecimento global, você não conseguiria mais recuperar a área que já foi devastada.

O ponto limite é 40%? De onde tirou este dado? Percebam que ao limite de 40% de desmatamento que não se sabe de onde veio ele acrescenta os efeitos do aquecimento global. Baseia-se nas seguintes premissas: O desmatamento atingirá 40% da área; o aquecimento global é real. Esqueceu de olhar os limites da propriedade privada na Amazônia e a curva de temperatura global dos últimos 11 anos que é estável com viés declinante.

Sampaio - O que eu quero dizer: agora a gente já desmatou 20%. Se você parar de desmatar, e quiser recuperar esses 20%, possivelmente conseguiremos recuperar. Até 40%. Esse seria o limite, mais do que disso a gente não consegue recuperar parte da floresta amazônica.

Por que raios se pode recuperar 100% de 20% e até de 40%, mas não se pode recuperar de 41%? Que dinâmica é essa? Seria uma virada de esquina em que os sistemas biológicos deixariam de responder à ação humana?

Amazonia.org.br - O estudo apresenta estimativas diferentes para a mudança do clima, com cenários mais otimistas ou pessimistas.

Sampaio – Isso. A diferença entre eles é a concentração de gases na atmosfera, sobretudo de CO2. Porque num cenário de mais emissões, a degradação é maior, e também por conta do maior impacto no clima. Embora esse limite, quando se chega a um nível de degradação muito grande, por exemplo mais de 50% de desmatamento, não há muita diferença entre os cenários. Tanto faz os cenários de alta ou baixa emissão, com esse nível de desmatamento alto, a área degradada e a área remanescente de floresta seria muito semelhante.

O cientista aproveita para alimentar o pânico. Estabelece um corte em 50% de desmatamento, tipo tanto faz 50% quanto 100%. Fico imaginando que nem adianta tentar recuperar a mata atlântica, pois até que se chegue em 51% (nunca será alcançado) tanto faz.

Sampaio - Se continuarmos o ritmo de desmatamento e de emissões que estávamos na década de 2000, nós atingiremos esse limite por volta do ano de 2050. Quer dizer, nós temos no máximo quarenta anos para reverter esse quadro.

Esta é a afirmação mais comum e mais burra, embora freqüente em fóruns do tipo. Desde 2000 o ritmo está DIMINUNDO. Além do mais, há limites absolutos à expansão do desmatamento. Nem sequer há propriedade privada suficiente para este nível de expansão. A não ser que o cientista cogite que o governo vai, ele mesmo, tocar fogo em áreas indígenas e de preservação.

Amazonia.org.br - E nessa estimativa foi considerada as metas de redução de desmatamento do governo?

Sampaio – Ainda não. Esse será o nosso próximo passo.

Ahh tá. Então no modelo do cientista o Governo fica de fora. Bem moderno, hein?

Amazonia.org.br - O estudo também analisa o impacto em diferentes regiões da Amazônia.

Sampaio – No Nordeste, não da Amazônia, mas o Nordeste brasileiro, também existe impacto associado ao desmatamento da Amazônia, porque o desmatamento faz com que haja diminuição da área de caatinga, dando lugar a uma área bem grande de semideserto.

Como é que é? O desmatamento na Amazônia faz com que haja diminuição da área da caatinga?

Amazônia.org.br - Isso acontece por causa de mudanças no regime das chuvas?

Sampaio – No Nordeste ocorre uma diminuição bastante grande de chuvas na região central, com o desaparecimento da caatinga e o aparecimento de semideserto. Isso, de fato, já está acontecendo, a tendência é se acelerar.

O cientista afirma que o regime de chuvas do nordeste depende da evapotranspiração da floresta amazônica. Aboliram o El Niño. Deve ser por isso que a última grande seca no Nordeste já completa 12 anos embora o desmatamento na Amazônia tenha sido contínuo. Hehehehe

O estudo apresenta propostas para evitar os impactos?
Sampaio – Não, não fizemos recomendações. Na verdade, as recomendações são aquelas que já conhecemos: diminuir as emissões de gases de efeito estufa e controlar o desmatamento.

Pronto. Termina com a bobagem aquecimentista de sempre. Mais um carbofóbico.

Da entrevista o que se pode com com máxima certeza é que se trata de mais uma tentativa de gerar pânico nas pessoas. O cientista do Inpe, firmado em premissas que julgo falsas, como o avanço indefinido do desmatamento e a existência provada de um aquecimento global às custas das emissões de CO², conclui falsamente aquilo que premissas falsas permitem. É assim que funciona.

A ONG vai mais além. Extrapola para o todo o que o cientista afirma para uma parte. Faz da ciência propaganda vagabunda, se me permitem o termo. Assim justifica a publicação, a atenção de muitos crédulos, a presença em fóruns ambientalistas, a grana para seus projetos e o emprego de muita gente que deveria estar aprendendo lógica elementar.
*Publicado também em minha coluna em http://www.agenciaamazonia.com.br/

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