Osmarino, Chico Mendes e o sindicalismo devorado.


Da entrevista do Osmarino Amâncio ao Blog da Amazônia recolho o texto abaixo e em seguida comento.

"Na verdade, de Chico Mendes fui companheiro na luta pela permanência dos seringueiros nas terras das quais estávamos todos sendo expulsos naquela época (processo que, ao que tudo indica, segue acontecendo em toda a Amazônia, incluindo o Acre). Quando nosso movimento ganhou repercussão nacional e internacional, vieram nos dizer que estávamos lutando pelo meio ambiente. Num primeiro momento, não sabia do que se tratava essa tal de ecologia, pensei que talvez fosse uma “sobremesa”.
Para mim e para os demais, incluindo não só Chico Mendes, mas a outra centena morta pelo latifúndio, nossa luta tinha mais em comum com os sem terra do sul do País do que com que essa conversa de salvar a floresta pra conter o aquecimento global. Queríamos a floresta em pé, mas com os seringueiros morando nela, tirando dali seu sustento, colocando seu roçado, caçando, pescando e derrubando madeira pra suas necessidades do dia-a-dia (carvão pra cozinhar, tábuas pra fazer casa, estaca pra fazer cerca, etc.)."

Não sei se Osmarino cometeu ou não crime ambiental. Que se apure e julgue. O que, porém, quero ressaltar no texto acima é a sua completa coerência com o que escrevi há 20 anos em minha dissertação de mestrado. Chico Mendes só foi ser ambientalista poucos anos antes de morrer e por senso de oportunidade, pois desse modo poderia conseguir o apoio da imprensa e da opinião pública. O seu verdadeiro e último norte era a posse da terra. Chico Mendes era fundamentalmente um sindicalista rural que aceitou vestiu-se de ecologista para alcançar seu objetivo.

Conheço o Osmarino dessa época. Ele era muito mais valente, muito mais ousado, muito mais atrevido, muito mais insubmisso do que o próprio Chico Mendes. Este era muito mais articulado, mais sábio, mais sereno, mais prudente, mais apto a acordos e consensos e, por isso, era o líder principal. Raramente incendiários como era o Osmarino alcançam tal posição.

Depois que Chico Mendes morreu a interlocução entre os seringueiros e a sociedade seguiu essa linha pontilhada onde se apresentavam técnicos, políticos em inicio de carreira e mesmo seringueiros e ex-seringueiros extasiados com a visibilidade que alcançavam. O ecologismo devorou o sindicalismo rural e fez a fama, carreira e fortuna de seus líderes. Não é por acaso que o Acre é, talvez, o único estado brasileiro onde o MST não fincou raízes. Como poderia? Os espaços estão tomados pelos ecologistas de dentro e de fora do governo, do Acre e da floresta.

É  isso aí.

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